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EUA
Leia reportagem sobre a ocupação Pinherinho publicada no sítio do Labor Notes

 
 

Jane Slaughter é uma das dirigentes do Labor Notes, principal organização que une grupos de oposição e setores dissidentes que lutam pela democratização dos sindicatos nos Estados Unidos.

Ela esteve nos congressos da Conlutas e da Classe Trabalhadora em junho deste ano no Brasil. Uma de suas atividades foi conhecer a atuação do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SP). Jane vive na cidade de Detroit (Estado de Michigan), onde está localizada a matriz da General Motors (GM), nos Estados Unidos.

Em São José visitou a ocupação urbana Pinheirinho. Leia a reportagem publicada no Labor Notes:

Sindicato brasileiro apoia ocupação de terra mostrando o poder de um bom exemplo

Por Jane  Slaughter, do Labor Notes (Estados Unidos)

Tradução Julia Bosco Ferreira 

Diante da aproximação do Fórum Social dos Estados Unidos, aqui em Detroit, nós do "Labor Notes" estivemos discutindo muito sobre como sindicatos podem trabalhar com outros movimentos para atingir objetivos comuns. O Fórum Social tem como objetivo unir movimentos diferentes. Um exemplo recente vem da Califórnia, onde uma seção local do SEIU (Sindicato Internacional de Trabalhadores em Serviços) trabalhou com ambientalistas e ganharam duas batalhas contra uma refinaria de petróleo, que tentava refinar petróleo com alto potencial poluidor.

Na última semana, no Brasil, eu tive a sorte de conhecer ativistas de outro exemplo maravilhoso: um sindicato de metalúrgicos, cujos membros são bem pagos para os padrões brasileiros, que ajuda a organizar um movimento de pessoas pobres para ocupar um terreno desocupado e construir casas.

A nova comunidade é chamada de Pinheirinho, por causa dos pinheiros que crescem ali. Existem 2800 famílias vivendo lá agora, cada qual com um pequeno jardim e uma casa, simples de alvenaria.

Eu me encontrei com o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, que representa 40.000 trabalhadores de várias fábricas da região de São José dos Campos, leste de São Paulo (uma das maiores é a General Motors, com 8.700 trabalhadores e 3 linhas de montagem).

Alguns anos atrás existia um pequeno movimento popular na área, por volta de 50 famílias, que ocuparam um terreno próximo. Eles tiveram vários confrontos com a polícia. O Sindicato designou um de seus dirigentes para trabalhar em tempo integral com essas pessoas. Outros líderes antigos e atuais - inclusive um ex-presidente do Sindicato que acabou se tornando um advogado trabalhista - também gastam muitas horas compartilhando as suas habilidades de organização.

Em 2004, esse grupo esperou até que a polícia estivesse atuando no centro da cidade com as celebrações do Carnaval. A população trouxe tendas e tomaram um grande terreno próximo a uma rodovia. O terreno era de um milionário, que o deixava ocioso para especulação.

E devagar, eles construíram casas. Eles "emprestaram" energia elétrica e água das empresas de utilidade pública. E há algumas semanas, eles ganharam uma liminar na justiça: eletricidade e água são direitos humanos básicos e as companhias não podem desligá-los. Antes disso, eles ganharam uma liminar que legaliza o assentamento. Cada casa tem um endereço, como Rua 9, Área B, Número 2.

O Pinheirinho se auto-governa, e os moradores criaram muitas regras. Pais são obrigados a terem seus filhos na escola, e eu vi muitas mães acompanhando suas crianças até em casa. Drogas são proibidas. Se um homem bate em sua esposa, ele é expulso. Se ela pedir que ele volte, tudo bem, mas se ele bate nela novamente, a família inteira é expulsa.

A maioria das famílias é chefiada por mulheres, que saem do Pinheirinho para trabalhar como empregadas domésticas, ou talvez recolher plástico para reciclagem. As pessoas ainda são pobres, sem dúvidas, mas a situação melhorou muito desde então.

Os moradores têm reuniões toda semana, às terça-feiras por setor (por volta de 100 famílias), e aos sábados reuniões de todos. Eles se encontram em um espaço para reuniões mal iluminado, mobiliado com sofás e cadeiras antigas. Apresentada como uma jornalista estadunidense, eu perguntei como eram as condições de vida deles anteriormente. Cada um me contou histórias como a família toda morando em um ou dois quartos.

Eu perguntei quais eram suas maiores vitórias. Um homem disse: "as casas, a luz, a água". Uma mulher disse: "nossa consciência". Eles não aceitam dinheiro de organizações sociais sem fins lucrativos. Os líderes acreditam que isso os transformaria em um caso de caridade e preferem ver as pessoas tomando suas próprias decisões.

As pessoas do Pinheirinho são parte do Movimento dos Sem Teto, mas as pessoas são cuidadosas ao explicar que não são como os "sem teto", como nós usamos o termo, aqui nos Estados Unidos, com pessoas mendigando nas ruas. O Movimento dos Sem Teto é parte de uma Central Nacional, a CONLUTAS, que representa 2 milhões de pessoas e inclui não só sindicatos, mas também outros movimentos populares.

Foi inspirador conhecer pessoas que, literalmente, criaram algo do nada. "Nos Estados Unidos", eu disse à eles,"mais e mais pessoas estão perdendo suas casas, e nós temos muitas casas desocupadas, mas as pessoas raramente as ocupam." Por que não? 

Em 2004, esse grupo esperou até que a polícia estivesse atuando no centro da cidade com as celebrações do Carnaval. A população trouxe tendas e tomaram um grande terreno próximo a uma rodovia. O terreno era de um milionário, que o deixava ocioso para especulação.

E devagar, eles construíram casas. Eles "emprestaram" energia elétrica e água das empresas de utilidade pública. E há algumas semanas, eles ganharam uma liminar na justiça: eletricidade e água são direitos humanos básicos e as companhias não podem desligá-los. Antes disso, eles ganharam uma liminar que legaliza o assentamento. Cada casa tem um endereço, como Rua 9, Área B, Número 2.

O Pinheirinho se auto-governa, e os moradores criaram muitas regras. Pais são obrigados a terem seus filhos na escola, e eu vi muitas mães acompanhando suas crianças até em casa. Drogas são proibidas. Se um homem bate em sua esposa, ele é expulso. Se ela pedir que ele volte, tudo bem, mas se ele bate nela novamente, a família inteira é expulsa.

A maioria das famílias é chefiada por mulheres, que saem do Pinheirinho para trabalhar como empregadas domésticas, ou talvez recolher plástico para reciclagem. As pessoas ainda são pobres, sem dúvidas, mas a situação melhorou muito desde então.

Os moradores têm reuniões toda semana, às terça-feiras por setor (por volta de 100 famílias), e aos sábados reuniões de todos. Eles se encontram em um espaço para reuniões mal iluminado, mobiliado com sofás e cadeiras antigas. Apresentada como uma jornalista estadunidense, eu perguntei como eram as condições de vida deles anteriormente. Cada um me contou histórias como a família toda morando em um ou dois quartos.

Eu perguntei quais eram suas maiores vitórias. Um homem disse: "as casas, a luz, a água". Uma mulher disse: "nossa consciência". Eles não aceitam dinheiro de organizações sociais sem fins lucrativos. Os líderes acreditam que isso os transformaria em um caso de caridade e preferem ver as pessoas tomando suas próprias decisões.

As pessoas do Pinheirinho são parte do Movimento dos Sem Teto, mas as pessoas são cuidadosas ao explicar que não são como os "sem teto", como nós usamos o termo, aqui nos Estados Unidos, com pessoas mendigando nas ruas. O Movimento dos Sem Teto é parte de uma Central Nacional, a CONLUTAS, que representa 2 milhões de pessoas e inclui não só sindicatos, mas também outros movimentos populares.

Foi inspirador conhecer pessoas que, literalmente, criaram algo do nada. "Nos Estados Unidos", eu disse à eles,"mais e mais pessoas estão perdendo suas casas, e nós temos muitas casas desocupadas, mas as pessoas raramente as ocupam." Por que não?